Apresentamos, a seguir, um texto que permite formar uma opinião mais consistente sobre o uso do biogás como fonte de energia e uma noção sobre o processo de biodigestão.

A produção da energia biodigestora é um processo através do qual o homem pode obter um material combustível, conhecido como biogás, o qual pode ser utilizado para fins energéticos diversos. O biogás é um gás inflamável produzido por microrganismos a partir de uma fermentação anaeróbica de resíduos orgânicos, dentro de certas condições de temperatura, umidade e pH. O metano é a principal substância componente do biogás, o qual não tem cheiro e nem cor. No entanto, outras substâncias presentes no biogás podem lhe conferir um odor característico, em especial devido à presença de compostos de enxofre.

É importante valorizar o constante desenvolvimento das chamadas energias alternativas, até mesmo porque elas podem vir a substituir as atuais fontes esgotáveis de energia. A biodigestão é um dos processos considerados como fontes alternativas de energia, uma vez que seu funcionamento não agride o ambiente - contrariamente a outras fontes como o petróleo, o carvão, materiais radioativos (energia nuclear). Além disso, trata-se de uma fonte não esgotável de energia.

O biogás é bastante usado em países de economia rural, como a Índia e a China, que abrigam milhares de biodigestores tanto no meio rural como em pequenas cidades. Dessa maneira, esses países propiciam à população uma forma barata e não poluidora de obtenção de combustível. Contudo, no Brasil, ainda que a construção de um biodigestor e sua manutenção sejam de baixo custo e que se trate de uma fonte de energia ecologicamente correta, a produção do biogás é pouco freqüente. A grande quantidade de resíduo orgânico  produzido no meio rural poderia ser melhor aproveitada, como também a grande quantidade de RSD, precariamente utilizada para esse fim.

           Para explicar o processo através do qual é obtido o biogás, pode-se partir da exploração da própria palavra biodigestão. A idéia central que permite compreender o funcionamento de um biodigestor, tal como sugere a palavra,relaciona-se à participação essencial de seres vivos (microrganismos) que fermentam resíduos orgânicos - esterco, bagaço de cana-de-açúcar, palha, lixo úmido - em um ambiente fechado e apropriado, produzindo o biogás. O que acontece é que certos microrganismos presentes nesses resíduos em biodigestão utilizam a matéria orgânica como alimento, uma vez que dela extraem substâncias nutrientes [carboidratos, proteínas, lipídeos] essenciais à sua sobrevivência e reprodução. Para aproveitar os alimentos, como acontece com qualquer ser vivo, os microrganismos decompõem nutrientes através de uma seqüência complexa de reações químicas que integram o seu metabolismo[1] energético e que formam produtos finais de excreção, dentre os quais o gás metano [CH4 (g)] que, como já dissemos, é o principal componente do biogás.

Assim, o gás metano obtido em um biodigestor nada mais é do que uma das substâncias finais produzidas pelo metabolismo de microrganismos e que, adequadamente coletada, pode ser utilizada como combustível.

Um biodigestor foi observado em uma propriedade rural e aparece na foto 4. Ao lado, figura 2, foi esquematizado o espaço interior do mesmo biodigestor para que se tenha uma idéia de seu funcionamento. O material orgânico utilizado é esterco animal.

O processo é realizado em tanques fechados - biodigestores - e requer condições controladas que propiciem a atividade de diferentes microrganismos.


[1] É importante valorizar essa noção de que ocorrem transformações químicas ou metabólicas e valorizar o conceito de metabolismo como um dos conceitos centrais da Biologia. Há, aqui, um contexto de significação restrita, que se refere à idéia de que através de uma seqüência complexa de reações químicas, os seres vivos transformam nutrientes em determinados produtos de excreção, como é o caso do gás metano.

 

 

 Biodigestor instalado em propriedade rural de Modesto Dalla Rosa. Ijuí/RS. Utiliza esterco como Matéria Orgânica. Representação esquemática do mesmo biodigestor

 

 Foto 4 Figura 2