A questão energética vem adquirindo crescente importância na sociedade, principalmente a partir da Revolução Industrial. O conceito de energia, embora pouco compreendido, tornou-se um certo slogan para parte significativa dos seres humanos. Sua notoriedade está relacionada à decorrência da utilização de formas de energia tais como a elétrica, a térmica, a mecânica, etc.

Mesmo percebendo a importância de algumas formas de energia para o seu cotidiano e sua prosperidade, os seres humanos, em geral, estão ainda distantes de compreendê-la em sua unidade/complexidade. Prova disso é o mau gerenciamento dos recursos energéticos que, paralelamente à sua utilização, tem causado muitos transtornos ao meio ambiente. Esses transtornos nem sempre são muito evidentes quando pensados como desperdício de energia. Assim, a produção exagerada de resíduos sólidos e o não reaproveitamento destes, pode ser considerado desperdício de energia.

A sociedade de consumo, cuja tônica é a eficiência e a praticidade, tem deixado os indivíduos despreocupados com graves questões ambientais ligadas à desorganização energética. O problema reside no direcionamento único dessa eficiência e praticidade, e também, na utilização e transformação dos recursos naturais como mercadorias, sem a devida preocupação com os problemas ambientais decorrentes.

Atualmente, com os efeitos mais explícitos, de forma a afetar diretamente as condições de vida e sob a pressão de diversas entidades (a maioria não-governamentais), as preocupações e atitudes para o enfrentamento dos problemas gerados, têm se tornado crescentes.

O aproveitamento de formas não poluentes de energia, como a solar, a eólica, a das marés, a energia da biomassa, entre outras, aliada ao aumento da eficiência (maior rendimento e maior controle sobre os poluentes), ainda que de dimensões limitadas, já mostra sinais de que é possível uma vida mais harmoniosa no planeta.

Os problemas ambientais, decorrentes do mau gerenciamento dos RSD é um bom exemplo de desperdício energético. Pode-se refletir sobre essa questão da seguinte forma: tiramos diretamente dos alimentos os recursos energéticos para o funcionamento do nosso organismo. Assim, podemos afirmar, que, ao jogarmos fora parcela dos alimentos, estamos desperdiçando recursos energéticos úteis. Dessa forma, estamos contribuindo diretamente com a degradação de energia que, mediante processos de transformação de material orgânico, torna sem proveito uma energia potencialmente útil “perdida” na forma de calor.

            No sistema de compostagem foi possível vivenciar esse processo. O aumento da temperatura, que decorre das transformações da matéria orgânica foi perceptível. O metabolismo dos microrganismos, como todos os processos metabólicos, é um processo de

transformação de energia, em que uma das formas de energia é a térmica, responsável pelo aquecimento do sistema, elevando a temperatura[1].

A manutenção da temperatura do nosso corpo é igualmente decorrência da atividade metabólica do próprio organismo e sua temperatura constante (36o C), é regulada pela capacidade de dissipação maior ou menor de calor.

O contato do nosso corpo com sistemas de temperaturas superiores a 36ºC dá-nos a sensação térmica de mais quente. No caso da compostagem, as temperaturas podem alcançar valores superiores a 60ºC, o que nos dá a sensação de quente. Essa sensação, captada por um dos órgãos do sentido (tato), é muitas vezes suficiente para termos uma informação que buscamos em um sistema (mais quente ou mais frio). Para diferenças mais precisas utilizamos o termômetro como instrumento de medida e não nosso tato. O importante é sabermos que temperatura mais elevada ou mais baixa indica estado energético de um sistema, definido pela maior ou menor agitação das partículas constituintes deste sistema (energia cinética) e não a quantidade de calor do sistema. Portanto, mais quente significa maior temperatura e mais frio menor temperatura.

A distinção temperatura e calor sob o ponto de vista da ciência, é necessário que aconteça com o tempo. Por ora é suficiente que você saiba que o aumento da temperatura em um sistema dá-se porque aumenta a energia cinética das moléculas que o constituem e a diminuição da temperatura acontece porque diminui a energia cinética das moléculas do sistema. O aumento de temperatura nas transformações químicas acontece devido à transformação de um tipo de energia (potencial) em outra (cinética).

O aumento da temperatura verificado na compostagem deve-se, então, às transformações que ocorrem nas substâncias orgânicas, que compõem o material.

Isso ocorre devido à ruptura (quebra) das ligações químicas presentes nas substâncias orgânicas e, à formação de novas ligações responsáveis pela formação dos produtos. Essa quebra e formação de ligações envolve energia, a qual é responsável pelo aumento da temperatura na compostagem.

Quando um sistema aquece dizemos que produziu calor ou energia térmica, esta só existe como energia, na transferência entre sistema mais quente para mais frio, isto é, energia cinética das partículas do sistema de maior temperatura é “passada” para outro sistema menos quente ou de menor temperatura.

É importante registrar, também, que há a interferência de outros fatores no processo de transformações que ocorrem numa compostagem, entre eles, o clima, a umidade e o vento. 


[1] A proliferação e a atividade microbiana promovem o aumento da temperatura que pode atingir até 65ºC, que é considerado o pico máximo ideal. Se a temperatura atingir valores superiores a 65ºC ocorre a morte dos microrganismos, por isso é usada a técnica de revolvimento da compostagem. Essa técnica permite um aumento na taxa de transferência do calor para o meio (dissipação de calor) fazendo com que a temperatura da matéria orgânica em decomposição diminua, atingindo valores mais favoráveis à manutenção de condições adequadas da compostagem.