GERENCIAMENTO INADEQUADO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ASSOCIADO À FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO:

UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA 

 

            Quando disposto de forma inadequada, o lixo é responsável pela transmissão de várias doenças, porque, ao se decompor, libera substâncias que favorecem o desenvolvimento de diversos organismos patogênicos, além de propiciar a proliferação de vetores (moscas, ratos, baratas, mosquitos) que encontram alimento e abrigo nesse meio. Associado à falta de coleta e tratamento do esgoto urbano, torna-se um grave problema de saúde pública.

            A seguir, estão relacionadas algumas doenças comuns que podem ter sua disseminação incrementada por esses fatores.

 

 

DENGUE

Sintomas: fortes dores de cabeça e nas articulações, fraqueza, falta de apetite, febre e manchas na pele. A doença se manifesta sob duas formas: a benigna e a hemorrágica e esta poderá levar à morte.

Agente Causador: é causada por um vírus do gênero Flavivírus e transmitido ao homem através da picada do mosquito Aedes aegypti.

Contágio: por meio da picada do mosquito infectado, que possui hábitos diurnos e é encontrado nas casas e arredores.

Precauções: combater o mosquito (vetor); aos primeiros sintomas procurar assistência médica e não tomar medicamentos que contenham ácido acetil salicílico, pois esta substância é reconhecidamente anticoagulante, antitrombótico e hemorrágica.

 

 

HEPATITE

Sintomas: É uma doença que atinge o fígado e que por ser silenciosa em seu início, pode causar sérios danos se não for logo diagnosticada. Os sintomas mais comuns são: icterícia (amarelão), cansaço, dores musculares e nas articulações, náuseas, vômitos, diarréia, desconforto abdominal e mudança de cor na urina (escura) e nas fezes (claras). As hepatites A, B e C são as mais freqüentes, mas há outras menos comuns, como a do tipo E.

Agente causador e contágio: A Hepatite A é causada pelo vírus do tipo A, transmitido através da ingestão de alimentos sólidos ou líquidos contaminados por excrementos humanos infectados pelos vírus, e de pessoa a pessoa. A Hepatite do tipo E é semelhante a do tipo A. As demais hepatites apresentam outras formas de transmissão.

            Precauções: lavar as mãos depois de utilizar o banheiro e antes de comer; beberapenas água filtrada ou fervida; não deixar lixo espalhado; manter dieta alimentar saudável.

 

 

CÓLERA

Sintomas: acentuada diarréia seguida de vômitos e desidratação. Se não for tratada poderá ocorrer paralisação dos rins e levar à morte.

Agente Causador: bactéria Víbrio cholerae.

Contágio: ingestão de água e alimentos contaminados com fezes que contêm essa bactéria.

Precauções: melhoria no sistema de saneamento básico; ingerir água tratada ou fervida e verduras e legumes bem lavados ou cozidos.

 

 

FEBRE TIFÓIDE

Sintomas: febre, falta de apetite, dores musculares, diarréias e manchas vermelhas na pele.

Agente Causador: bacilo Salmonella tiphy.

Contágio: é transmitida ao homem pela ingestão de água e alimentos contaminados com essa bactéria.

Precauções: lavar e cobrir os alimentos, evitando o contato com as moscas; lavar as mãos após usar o banheiro; manter a lixeira tampada para evitar a proliferação de moscas.

 

 

LEPTOSPIROSE

Sintomas: febre, dor de cabeça, pescoço enrijecido, pele avermelhada, presença de sangue na urina e comprometimento renal.

Agente Causador: bactéria Leptospira sp. e os vetores são os roedores, principalmente o rato de esgoto ou ratazana.

Contágio: contato ou ingestão de água e alimentos contaminados com a urina desses animais doentes ou portadores sadios.

Precauções: saneamento básico; proteger-se quando trabalhar com esgotos, arrozais, viveiros e em veterinárias; acondicionamento, coleta e disposição adequada do lixo; procurar assistência médica em caso de contato com roedores.

 

 

GIARDÍASE

Sintomas: distúrbios intestinais e diarréia sanguinolenta.

Agente Causador: protozoário Giardia lamblia.

Contágio: ingestão de água e alimentos contaminados com cistos de giárdia.

Precauções: lavar bem os alimentos; ingerir somente água tratada, filtrada ou fervida; higiene pessoal; saneamento básico.

 

 

AMEBÍASE

Sintomas: distúrbios e cólicas intestinais; diarréias.

Agente Causador: Protozoário Entamoeba histolytica.

Contágio: ingestão de água ou alimentos contaminados com cistos[1] de ameba.

Precauções: idem à giardíase.

 

 

ASCARIDÍASE

Sintomas: distúrbios intestinais, pneumonia, tosse seca, vontade de comer doces, terra (devido a interferência na absorção de ferro), anemia.

Agente Causador: causada pelo nematelminto Ascaris lumbricoides, conhecido popularmente como lombriga.

Contágio: ingestão de ovos de Ascaris em verduras mal lavadas e água contaminada.

Precauções: idem à giardíase.

 

MIÍASES (BICHEIRAS e BERNES)

Sintomas:

a)                            Bicheiras internas: conforme a literatura, dependendo do número de larvas ingeridas os sintomas podem ser discretos ou manifestar-se com náuseas, vômitos ou diarréias e lesões em tecidos adjacentes.

b)                            Bernes e bicheiras externas: provocam lesões na pele e tecidos adjacentes.

Agente Causador: larvas de moscas dos gêneros Musca, Bercaea, Sarcophaga, Dermatobia, Muscina, Fannia, Eristalis e outros.

Contágio: ingestão de alimentos contaminados pelas moscas ou pela deposição direta dos ovos das moscas em tecidos necrosados do homem. A mosca do berne coloca os ovos na pele intacta.

Precauções: combater as moscas e evitar deposição de lixo em locais inadequados.

 

 

ATIVIDADE 13: 

 ENTREVISTA E/OU PESQUISA

        Após estudar as doenças que podem ser provocadas pelo gerenciamento inadequado do lixo e pela falta de saneamento básico, busque saber, junto à Secretaria Municipal de Saúde ou outros locais, quais das doenças citadas acima são mais freqüentes no município. Uma atividade alternativa pode ser realizada através de uma entrevista coletiva com um sanitarista (médico (a), enfermeiro (a), farmacêutico (a), etc), para esclarecer dúvidas sobre os problemas de saúde pública no município e a relação destes com a problemática do lixo e do saneamento básico.

        É importante que a entrevista seja previamente preparada e discutida em sala de aula, permitindo que todos formulem questões de forma a contemplar os conceitos de saúde, doença, agente etiológico, infecção, infestação, vetores, hospedeiro, zoonose, tratamentos, patogenicidade, virulência, profilaxia e prevenção.

        Após a realização dessas atividades os resultados podem ser socializados na forma de cartazes, jornal da escola, elaboração de panfletos, etc.

 

ATIVIDADE 14: 

 MEIO DE CULTURA PARA DESENVOLVIMENTO DE MICRORGANISMOS

 

Para explorar a presença de microrganismos (bactérias e fungos) na compostagem, podemos realizar a atividade que segue, através da qual podemos observar o seu crescimento em meio de cultura apropriado e sob condições controladas.

É importante que sejam estabelecidas relações entre a presença de microrganismos no lixo e as transformações por eles processadas. Você pode propor e discutir situações como o apodrecimento de uma casca de laranja no solo, comparando-a com a secagem da casca de laranja ao sol ou outro ambiente seco e quente. Compare, ainda, com outros materiais não biodegradáveis (sacos plásticos, vidros, etc), presentes no lixo.

Procure informar-se sobre significados de palavras como: apodrecimento, decomposição, decompositores, biodegradável.

Na compostagem os materiais encontrados no lixo são transformados, na presença de oxigênio, em produtos como a água e o gás carbônico. Essa transformação é possibilitada pela ação de microrganismos aeróbicos. É importante que você discuta a necessidade e a procedência do oxigênio e dos microrganismos necessários a essa transformação.

 Um bom meio de cultura para verificar a presença de microrganismos no lixo úmido pode ser obtido da seguinte forma: 

            Coloque num copo de béquer 200 ml, ou outro recipiente semelhante, de água e meio tablete de caldo de carne e ferva. Espere esfriar bem e retire a gordura. Aqueça, novamente, aguarde até que esfrie bem (pode-se colocar na geladeira), retire a gordura e filtre. Misture ao filtrado 50 g de dextrose (que pode ser adquirido em supermercados com o nome comercial de dextrosol), 4 colheres rasas de amido de milho e 300 ml de água. Leve ao fogo até que levante fervura. Distribua em placas de Petri aproximadamente 1 cm do meio de cultura, deixe esfriar e inocule 1 ml de lixo úmido dissolvido (ver abaixo). Tenha o cuidado de não fechar completamente a placa para evitar a formação de gotículas d’água. Quando esfriar, feche bem as placas.

Obs: Para fazer os aquecimentos use telas de dissipação de calor (tela de amianto), evitando que o copo de béquer sofra danos.

 Para testar a presença de microrganismos no lixo, tente dissolver 1 g de lixo úmido em 100 ml de água. Retire 1 ml da solução e dilua em 10 ml de água. Em seguida inocule nas placas de Petri. Pode-se realizar mais uma diluição, retirando 1 ml e diluir em 10 ml de água. Pode-se colocá-las em diferentes ambientes: com bastante claridade, no escuro, em ambientes mais quentes, na geladeira, etc.

 Alguns cuidados devem ser tomados para realizar esta atividade:

As placas de Petri devem ser esterilizadas para que não haja contaminação por outros microrganismos. Para isso, pode-se fervê-las em uma panela de pressão, por aproximadamente 30 minutos. Isso pode ser feito com o meio de cultura dentro da placa, tendo o cuidado para que a água não entre na mesma.

             Após alguns dias será possível observar diversas colônias de microrganismos que poderão ser melhor visualizadas ao microscópio óptico.

              Quando inocular o lixo úmido diluído nas placas de Petri, mantenha próximo um bico de bunsen ou uma lamparina a álcool acesos, criando um campo estéril para diminuir a possibilidade de contaminar o meio de cultura com microrganismos presentes no ar.

 

ATIVIDADE 15: 

 PREPARAÇÃO DE LÂMINAS PARA VISUALIZAR MICRORGANISMOS

 

Para facilitar a observação de fungos ao microscópio, pode-se preparar uma solução de Lactofenol. Para isso pegue 10 ml de fenol, 10 ml de ácido lático, 20 ml de glicerina e 10 ml de água destilada. Misture todas essas substâncias e  agite bem. Pode-se guardar o preparado em um frasco com tampa.

Para observar os fungos ao microscópio, coloque sobre uma lâmina de vidro uma pequena amostra de microrganismos coletados nas placas de Petri ou mesmo diretamente na compostagem, pingue sobre a amostra uma gota de lactofenol e cubra com uma lamínula. Caso sua escola não possua lactofenol, coloque uma gota d’água sobre a amostra.

 

 

ATIVIDADE 16: 

 SUCESSÃO ECOLÓGICA NA COMPOSTAGEM

 

Após montar a compostagem observe-a semanalmente e anote numa planilha quais os seres vivos que podem ser visualizados. Observe cuidadosamente as larvas que se desenvolvem e busque saber qual é a sua função nesse ambiente. Procure, também, acompanhar as fases da metamorfose. É possível observar seres vivos muito pequenos, como, por exemplo, ácaros e colêmbolos (decompositores visíveis a olho nu). Observe, anote e desenhe os diferentes tipos de organismos vivos que se desenvolvem durante o processo de compostagem e compare-os com a literatura.

            Esquematize, através de desenho ou escrita, uma cadeia ou teia alimentar com os seres vivos presentes nesse ecossistema (composteira), lembrando de destacar produtores, consumidores e decompositores.

            Para melhor compreensão leia o texto “a diversidade das relações ecológicas da compostagem” e discuta de onde vieram esses seres vivos, como obtêm seu alimento, sua função na natureza, os motivos das alterações da temperatura, diferentes populações de seres vivos (relações entre temperatura, umidade e pH), entre outros.

 Os textos: “A Diversidade das Relações Ecológicas da Compostagem” e “A Questão Energética e o Lixo” visam ajudar na reflexão sobre os processos físico-químico-biológicos amplos presentes num sistema particular de transformação como pode ser considerada a compostagem ou a biodigestão. Sugerimos que seja feita uma reflexão coletiva a fim de produzir novos significados para alguns termos muito importantes na formação do pensamento científico.

[1] Cistos são formas de vida latentes e resistentes as mudanças ambientais.