REFLEXÕES SOBRE LIXO E CIDADANIA

 

 Tudo aquilo que é resultado das atividades humanas, que é usado, amassado, imundiciado, indesejável, que não nos serve mais, colocamos no LIXO! E ponto final! Como diz o dicionário Aurélio “lixo é tudo aquilo que não presta, e se joga fora”.

Mas, jogar fora o quê? Aonde? Ora! De preferência, bem longe dos olhos e do nariz! Será que é isso mesmo?

O volume de Lixo gerado por uma população revela a sua riqueza ou pobreza, e a composição desses resíduos, seus hábitos de consumo ou desperdício, além da consciência política individual e coletiva.

A disposição inadequada resulta numa série de problemas sociais, cuja face mais perversa coloca uma massa de sub/desempregados ou excluídos, sem moradia, em áreas ambientalmente degradadas dos lixões, que se tornam o único meio de sobrevivência, já que oferecem alimento e resíduos recicláveis para a comercialização. Assim como o próprio lixo, a degradação humana torna-se uma realidade nessas situações.

Agravando mais ainda essa questão social, os problemas sanitários são preocupantes. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), mais de 65% dos leitos hospitalares no Brasil são ocupados por pessoas portadoras de doenças provocadas pela falta de saneamento ambiental em que o lixo tem grande parcela de contribuição. A Agenda 21 da ONU (Organização das Nações Unidas) cita que até o final do século XX 4 milhões de crianças morrerão em conseqüências de doenças provocadas pelo lixo.

De alguns anos para cá, as preocupações das sociedades e as ações governamentais, voltadas anteriormente somente para a preservação e proteção de ecossistemas representativos da Biodiversidade, passaram a destacar a poluição produzida pelas atividades econômicas e pela crescente concentração populacional nos centros urbanos. Quando há grandes concentrações populacionais, há também um aumento da quantidade de resíduos gerados.

Nos últimos 50 anos, além de crescente em quantidade, a composição do lixo vem mudando. Cada vez mais produz-se materiais “descartáveis que, na maioria das vezes, não se degradam naturalmente e quando manejados de forma inadequada, como sua queima, geram substâncias tóxicas, perigosas e que agridem o ambiente. Além disso, o lixo urbano, no Brasil, contém um grande percentual de lixo úmido, que despejado em lixões entra rapidamente em decomposição, gerando gases e líquidos fétidos e contaminados, atraem vetores de inúmeras doenças e permitem a proliferação de microrganismos patogênicos. A decomposição do lixo úmido, nas condições inadequadas dos lixões, também provoca a liberação de várias substâncias tóxicas, mutagênicas e cancerígenas.

Qual o conceito de lixo que adotaremos? Daquilo que inicialmente definimos como inútil, indesejável ou descartável passaremos a considerar lixo como uma “massa heterogênea de resíduos sólidos resultantes das atividades humanas, os quais podem ser reciclados ou parcialmente re-utilizados, gerando entre outros benefícios, proteção à saúde pública e economia de energia e recursos naturais”(Pereira Neto, 1998).

O Decreto Estadual 38.256/98, que regulamenta a Lei Estadual de Resíduos Sólidos 9.921/93, estabelece um modelo de gestão que combina várias técnicas para o manejo dos diferentes componentes do fluxo de resíduos, e baseia-se nos seguintes princípios:

não geração ou redução/minimização; reutilização/reaproveitamento; reciclagem; tratamento adequado e correta disposição final.

Todos esses princípios visam a diminuição do desperdício, do volume de resíduos, proporcionam economia de recursos naturais (matérias-primas) e de energia, assim como reduzem a poluição do solo, da água e do ar.

Para o sucesso de qualquer sistema de gerenciamento de resíduos, quatro fatores devem estar presentes: vontade política ou querer fazer; conhecimento técnico ou saber como fazer; recursos financeiros ou ter como fazer; pessoal qualificado e treinado ou fazer, avaliar e refazer.

É importante ressaltar que, qualquer que seja o tratamento dado aos resíduos, a triagem e a coleta seletiva são imprescindíveis. São instrumentos de educação/conscientização quando co-responsabiliza o indivíduo sobre os resíduos que produz, levando-o a re-pensar seus hábitos de consumo/desperdício. Dentre outros aspectos, a coleta seletiva é fundamental, pois envolve o gerador como um agente na construção de soluções, reduz o volume de lixo, aumentando a vida útil dos aterros e diminuindo a poluição. A coleta seletiva pode ser implantada em pequena escala e ser ampliada gradativamente, melhorando a qualidade dos materiais recicláveis e permitindo parcerias com catadores e papeleiros estimulando sua organização em associações e cooperativas.

O tratamento e a compreensão dos problemas ambientais, como fenômeno sócio-econômico e cultural - são imprescindíveis para o estabelecimento de novas relações entre o homem e a natureza.

Conforme a Constituição Brasileira (1988, Artigo 225), “Todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. 

Esse texto foi construído a partir da publicação “Reflexões Sobre a Questão do Lixo e a Cidadania” de Francesca Werner Ferreira, Eva Teresinha Boff e Clarinês Hames, componentes do GIPEC – UNIJUÍ, no Jornal da Manhã, Ijuí, 27/05/2000, p 10. 

            Para produzir maior compreensão sobre os materiais encontrados no lixo seco, sugerimos a atividade a seguir.

 

ATIVIDADE 10:  

 PESQUISA SOBRE OS MATERIAIS ENCONTRADOS    NO LIXO SECO

 

            Pesquisar sobre diferentes materiais que podem ser encontrados no lixo seco (papéis, metais, vidros, plásticos, tóxicos e outros), procurando saber sobre sua origem, formas de extração da natureza, utilização pela indústria, composição química, impacto causado pelo gerenciamento inadequado, reciclagem desses materiais e outros aspectos. Apresentamos abaixo algumas indicações de livros paradidáticos e de sites na Internet, que poderão ser de grande ajuda nessa pesquisa:

CANTO, Eduardo Leite do. Minerais, minérios, metais. De onde vem? Para onde vão? Coleção Polêmica, editora Moderna, 1996.

CANTO, Eduardo Leite do. Plástico: bem supérfluo ou mal necessário? Coleção Polêmica, Editora Moderna, 1995.

CAVINATTO, Vilma e RODRIGUES, Francisco. Lixo: de onde vem? Para onde vai? Coleção Desafios, Editora Moderna & Salamandra; 1997.

ESPERIDIÃO, Ivone Mussa e NÓBREGA Olímpio. Os metais e o homem, editora Ática; 1996.

GRIMBERG, Elisabeth & BLAUTH Patrícia. Coleta seletiva: Reciclando materiais, reciclando valores. Publicações Polis, São Paulo, 1998.

JAMES, Bárbara. Lixo e reciclagem. Editora Scipione, 1997.

LIMA, Maria Emília Caixeta de Castro; JÚNIOR, Orlando Gomes de e BRAGA, Selma Ambrosiana de Moura. Aprender ciências: um mundo de materiais. Livro do professor e do aluno. Editora UFMG, 1999.

LUTFI, Mansur. Os ferrados e os cromados, editora UNIJUÍ; 1992.

TOLEDO, Vera Vilhena de e GANCHO, Cândida Vilares. Brilho dos metais – mineração e metalurgia no Brasil, Coleção Desafios, Editora Moderna & Salamandra;

 

Na Internet podem ser encontrados diretamente nos seguintes sites:

www.ambientebrasil.com.br

www.cempre.org.br, www.lixo.com.br/, www.recicloteca.org.br/

 

Em outros sites podem ser encontradas informações complementares:

www.cade.com.br, www.google.com.br, www.altavista.com.br, www.achei.com.br, www.aonde.com.br, www.yahoo.com.br.

 

A Sociedade Brasileira de Química, através da divisão de ensino, produziu cadernos temáticos que também trazem informações importantes. Entre eles, podemos citar: Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, nº 1, que trata da química ambiental e o nº 2, que trata de novos materiais (plásticos e vidros), ambos de maio de 2001. Site:  www.sbq.org.br/ensino

 

 

 

Após a pesquisa, sugerimos a socialização das produções, em seminários, painéis, debates, entre outras formas. 

            Em continuidade ao estudo das transformações do lixo úmido (compostagem e biodigestor), propostas nas atividades 3 a 5, será realizado o monitoramento do processo nas próximas atividades.

 

ATIVIDADE 11  MONITORAMENTO DO PROCESSO DE COMPOSTAGEM

Após dispor o lixo úmido na caixa de compostagem, conforme orientações na atividade 5, é necessário acompanhá-lo por um certo tempo.

Esse monitoramento pode ser feito por um grupo de alunos ou por toda a turma, conforme descrito no final desta atividade.

Deve-se também fazer o monitoramento da sucessão ecológica que ocorre durante o processo, (Atividade 16), na página...... 

 

a) AERAÇÃO DA COMPOSTAGEM

A aeração deve ser mantida pelo reviramento do material de 3 em 3 dias nos primeiros 30 dias e 1 vez por semana após este período.  

A boa aeração é um fator preponderante para permitir a decomposição da matéria orgânica na direção desejada. Fornece oxigênio necessário aos microrganismos, permite a mineralização dos elementos N, S e P, além de formar gás carbônico e água. A aeração evita o aumento da temperatura, mantendo as condições de vida aos microrganismos aeróbicos durante o processo. Isso torna-se possível pela evaporação da água, que ocorre, principalmente, no revolvimento dos resíduos. Na aeração, com a diminuição da produção de substâncias formadas pela falta de oxigênio, são reduzidos os odores desagradáveis, oriundos dos gases poluentes como a amônia, o gás sulfídrico e a fosfina. Nas mesmas condições de pouco oxigênio há, também, formação de gás natural (metano), como na biodigestão, porém, em menor quantidade.

Assim, se o teor de oxigênio baixar demasiadamente, os microrganismos aeróbicos não encontrarão ambiente favorável para a reprodução, sendo substituídos pelos anaeróbicos que farão decomposição mais lenta, com odores desagradáveis.

 b) VARIAÇÃO DA TEMPERATURA

 Para verificar a temperatura, usar um termômetro (de laboratório), introduzindo-o no centro da compostagem, antes de revolver o material. Aguardar aproximadamente dois minutos e fazer a leitura. Para fazer o acompanhamento da variação da temperatura, sugere-se que ela seja feita diariamente e os dados anotados em uma planilha, que pode ser transformada em um diagrama de temperatura versus dia (número de dias desde o início da compostagem). O monitoramento da temperatura permitirá verificar as diversas fases e a qualidade do processo.

Os processos metabólicos dos seres vivos são sempre acompanhados de efeitos térmicos, o que nos leva a refletir sobre esse assunto.